Referência para este poema: 2 Samuel, cap 9
Quem sou eu, ó Rei, para que uses de bondade comigo?
Eu, que não passo de um cão morto, imundo
De onde vim é escuro, densa terra do silêncio
Quebraram-me os pés, não posso andar
Ainda criança me tornei um manco humilhado
Mataram meus sonhos, ó Rei, fui machucado
Eu tinha futuro predestinado, a perder de vista
Palácios, luxos, riquezas e domínios
Mas indefeso caí, tão frágil fui à ruína
E agora tu vens, ó Rei, a fim de me restituir
Tudo aquilo que um dia eu tive, e perdi
Eu que quase fui um príncipe, posso outra vez sonhar?
Arrancaste-me da terra de minhas feridas
E puseste esperança diante de meus olhos
Estarei à tua mesa para cear contigo, ó Rei bondoso!
Quebraram-me os pés, silenciaram minha alma
E quando nada me restava, além de solidão
O bondoso Rei me aquece o coração
Quem sou eu, ó Rei, para usares de bondade comigo?
Sou agora um homem digno, de olhos erguidos
Nunca mais, Lo-Debar, lugar escuro de silêncio...