sábado, 31 de julho de 2010

MENOS UM DIA



Que triste é acordar com a sensação
De ter vivido menos um dia, e dia nenhum ter vivido
De ter deixado relegado ao passado
Aquilo que hoje poderia ser um presente

Como rasgarei as páginas mal escritas
De minha existência, um livro de memórias oscilantes?
Que revelam quadrantes vis e noutro, momentos dignos
Quero seguir em frente sem dívidas comigo mesmo

Preciso parar de ver esse reflexo distorcido
Nesse espelho embaçado que me esfrega meus desajustes
Onde guardei minha santidade, minha identidade?
Que vento levou meus anos de inocência?

Pelo meu rosto agora escorre essa maquiagem borrada
Da mentira, da boa aparência, sorrisos de bonecos plásticos
Exposta ferida nas madrugadas surdas à tua voz
Onde posso recuperar meu tempo perdido?

Desalojei-me da promessa e quase morri desabrigado
Enquanto gigantes pisoteavam minhas doces lembranças
Ah, Senhor, regressaria se pudesse aonde desperdicei
Vida, tempo e juventude, agora insanamente enterrados

Se ainda houver cheiro suave nas minhas palavras fracas
Ouça-me, te clamo, ó Poderosíssimo Paciente!
Que meus joelhos ralados já me deixam demente
E assinale com sangue a brevidade que em mim ainda pulsa

Um comentário:

  1. Amei o poema. O eu-lírico pareceu bem arrependido mesmo. O quinto e o sexto verso foram muito impactantes. Parabéns!

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